Alguns de nós trabalhávamos no mesmo Call Center, que ficava num prédio frio na Avenida Borges de Melo. Fazíamos a retenção de alguns produtos da operadora Tchau. Cada alma, encoleirada pelo headset, se enfurecia com as ligações de clientes putos da vida, que queriam cancelar o maravilhoso pacote promocional.
O meu posto de atendimento ficava ao lado do posto da Maria. Eu tinha que ficar ouvindo palavrões à tarde inteira. Quando os clientes dela desligavam e retornavam, às vezes, eles caiam nos meus ouvidos como um demônio possuindo um evangélico. Sentia vontade de esmurrar o monitor para exorcizá-lo.
— Atendimento retenção Tchau Total. Boa tarde. Consultor Caio Bastos falando.
— EU ESTOU PUTO COM ESSA MERDA DE ATENDIMENTO. PORRA! COMO A TCHAU CONTRATA VOCÊS?!
Olhei os dados do filho da puta, enquanto ele despejava merda no meu cérebro. O nome dele era Adolfo Juliano da Cruz, tinha uma tv, telefone fixo e banda larga. Naquele instante soube que era o mesmo Adolfo de alguns minutos atrás. Pois, Maria esculachara o escroto pelo nome. Coloquei no mudo e estiquei um sorriso cansado para minha colega.
— Porra, Maria. Peguei o teu Adolfo.
— Se fodeu!
— EI! TU VAI ME DEIXAR FALANDO SOZINHO?!
Apertei o botão e tirei do mudo.
— Em que posso ajudar?
— Tu ouviu alguma coisa do que eu disse?
— …
— MEU DEUS!
Esse cliente gostava de falar. Então fiz o meu melhor. Mandei minha mente para o espaço, suportei tudo aquilo, e no final, cancelei o pacote inteiro. Ele pagaria uma multa de 550 reais. Fiz questão de avisar e ele gritou muito mais.
Minha supervisora era puta comigo. Eu era o campeão da minha equipe quando o assunto era taxa de cancelamento. Não tinha paciência para convencer um puto em desistir de cancelar. Mas nem todos os clientes eram putos, alguns eram pessoas que sofriam de uma crise financeira e deviam grana para Tchau. Então, eu continuava cancelando.
Alguns de nós trabalhávamos no mesmo Call Center, que ficava num prédio frio na Avenida Borges de Melo. Fazíamos a retenção de alguns produtos da operadora Tchau. Cada alma, encoleirada pelo headset, se enfurecia com as ligações de clientes putos da vida, que queriam cancelar o maravilhoso pacote promocional.
O meu posto de atendimento ficava ao lado do posto da Maria. Eu tinha que ficar ouvindo palavrões à tarde inteira. Quando os clientes dela desligavam e retornavam, às vezes, eles caiam nos meus ouvidos como um demônio possuindo um evangélico. Sentia vontade de esmurrar o monitor para exorcizá-lo.
— Atendimento retenção Tchau Total. Boa tarde. Consultor Caio Bastos falando.
— EU ESTOU PUTO COM ESSA MERDA DE ATENDIMENTO. PORRA! COMO A TCHAU CONTRATA VOCÊS?!
Olhei os dados do filho da puta, enquanto ele despejava merda no meu cérebro. O nome dele era Adolfo Juliano da Cruz, tinha uma tv, telefone fixo e banda larga. Naquele instante soube que era o mesmo Adolfo de alguns minutos atrás. Pois, Maria esculachara o escroto pelo nome. Coloquei no mudo e estiquei um sorriso cansado para minha colega.
— Porra, Maria. Peguei o teu Adolfo.
— Se fodeu!
— EI! TU VAI ME DEIXAR FALANDO SOZINHO?!
Apertei o botão e tirei do mudo.
— Em que posso ajudar?
— Tu ouviu alguma coisa do que eu disse?
— …
— MEU DEUS!
Esse cliente gostava de falar. Então fiz o meu melhor. Mandei minha mente para o espaço, suportei tudo aquilo, e no final, cancelei o pacote inteiro. Ele pagaria uma multa de 550 reais. Fiz questão de avisar e ele gritou muito mais.
Minha supervisora era puta comigo. Eu era o campeão da minha equipe quando o assunto era taxa de cancelamento. Não tinha paciência para convencer um puto em desistir de cancelar. Mas nem todos os clientes eram putos, alguns eram pessoas que sofriam de uma crise financeira e deviam grana para Tchau. Então, eu continuava cancelando.