Rafael é perseguido por duas pessoas em uma moto. Ele corre, mas não sabe o porquê está sendo atacado pelos agressores – quer dizer, o fato de o chamarem de viadinho e estarem com um cassetete gritando “vamu enfiá nu teu rabo!” faz com que ele imagine o porquê está sendo perseguido, mas não entende o porquê, entende? – , mas sabe que uma hora o gás vai acabar, e uma moto anda mais rápido que qualquer corredor, que dirá ele, com aquela disposição de bicho preguiça. Mas até agora o desespero vem descarregando adrenalina o suficiente em seu sangue para que corra como jamais correu na vida.
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Mas para saber o porquê mesmo, temos que voltar mais atrás. Vamos penetrar no mundo da internet.
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A internet, que foi criada como uma forma de comunicação mais eficiente para os militares, foi sendo aperfeiçoada com o passar dos anos, permitindo vídeo-aulas, acesso a acervos literários, audiovisuais, pesquisas de praticamente qualquer assunto, interação com pessoas distantes geograficamente ou afastadas com o tempo, etc., mas que atingiu seu ápice de utilidade através de um trabalho quase voluntário de criação e compartilhamento de memes. Apesar disso, ainda existem pessoas que utilizam a internet para maus fins; e no lugar de procurar memes idiotas e serem felizes, algumas pessoas passam os dias procurando cenas de violência e discursos reacionários, e são bem servidas por algumas páginas que sustentam-se espalhando ódio.
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Vitinho e Faquinha moravam em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro, vulgo favela do Muquiço. Estavam os dois fumando maconha na casa de Vitinho, e navegando no facebook, na página “Espada Cravada”, uma página com postagens reacionárias e de visão extremamente militar (ou seja, voltando ao uso inadequado do início da internet…), enfim, um dos mistérios da humanidade: por que pessoas que não deveriam gostar de repressão militar gostam de ver repressão militar (quando não é com elas)??? Enfim, estavam na “Espada Cravada” quando viram um vídeo de dois rapazes sendo flagrados juntos no escuro, com a imagem muito ruim, não dando para ver muito, mas pelo áudio, dava a entender que estava rolando uma felação, vulgo boquete, em uma das ruas da comunidade, vulgo favela. O vídeo terminava com a câmera em close no rosto dos dois garotos, com o intuito claro de expô-los. Na legenda, a página dizia que “essa falta de vergonha não acontecia na ditadura militar! Agora virou bagunça, você pode estar passando na rua de madrugada com sua criança e se deparar com isso! Se gostam de pau, acho que tá na hora da população dar pau neles!” (ironicamente, a mesma página havia publicado minutos antes vídeos de uma “novinha espetacular da Rocinha dando show!”, onde uma garota era exposta transando em uma viela da favela, durante o dia; obviamente cheio de comentários machistas e racistas, mas todos desejosos de “pegar a vagabunda”, como muitos comentavam).
Rafael é perseguido por duas pessoas em uma moto. Ele corre, mas não sabe o porquê está sendo atacado pelos agressores – quer dizer, o fato de o chamarem de viadinho e estarem com um cassetete gritando “vamu enfiá nu teu rabo!” faz com que ele imagine o porquê está sendo perseguido, mas não entende o porquê, entende? – , mas sabe que uma hora o gás vai acabar, e uma moto anda mais rápido que qualquer corredor, que dirá ele, com aquela disposição de bicho preguiça. Mas até agora o desespero vem descarregando adrenalina o suficiente em seu sangue para que corra como jamais correu na vida.
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Mas para saber o porquê mesmo, temos que voltar mais atrás. Vamos penetrar no mundo da internet.
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A internet, que foi criada como uma forma de comunicação mais eficiente para os militares, foi sendo aperfeiçoada com o passar dos anos, permitindo vídeo-aulas, acesso a acervos literários, audiovisuais, pesquisas de praticamente qualquer assunto, interação com pessoas distantes geograficamente ou afastadas com o tempo, etc., mas que atingiu seu ápice de utilidade através de um trabalho quase voluntário de criação e compartilhamento de memes. Apesar disso, ainda existem pessoas que utilizam a internet para maus fins; e no lugar de procurar memes idiotas e serem felizes, algumas pessoas passam os dias procurando cenas de violência e discursos reacionários, e são bem servidas por algumas páginas que sustentam-se espalhando ódio.
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Vitinho e Faquinha moravam em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro, vulgo favela do Muquiço. Estavam os dois fumando maconha na casa de Vitinho, e navegando no facebook, na página “Espada Cravada”, uma página com postagens reacionárias e de visão extremamente militar (ou seja, voltando ao uso inadequado do início da internet…), enfim, um dos mistérios da humanidade: por que pessoas que não deveriam gostar de repressão militar gostam de ver repressão militar (quando não é com elas)??? Enfim, estavam na “Espada Cravada” quando viram um vídeo de dois rapazes sendo flagrados juntos no escuro, com a imagem muito ruim, não dando para ver muito, mas pelo áudio, dava a entender que estava rolando uma felação, vulgo boquete, em uma das ruas da comunidade, vulgo favela. O vídeo terminava com a câmera em close no rosto dos dois garotos, com o intuito claro de expô-los. Na legenda, a página dizia que “essa falta de vergonha não acontecia na ditadura militar! Agora virou bagunça, você pode estar passando na rua de madrugada com sua criança e se deparar com isso! Se gostam de pau, acho que tá na hora da população dar pau neles!” (ironicamente, a mesma página havia publicado minutos antes vídeos de uma “novinha espetacular da Rocinha dando show!”, onde uma garota era exposta transando em uma viela da favela, durante o dia; obviamente cheio de comentários machistas e racistas, mas todos desejosos de “pegar a vagabunda”, como muitos comentavam).