O zumbi olha pra mim. Ou pelo menos está com os olhos em minha direção, um olhar opaco que não aparenta conseguir focalizar qualquer coisa. Uma baba cinzenta escorre de sua boca e pedaços de sangue coagulado caem dos buracos de bala. Pego um copo vazio no balcão, abasteço com uísque e jogo em frente a um banco ao meu lado.
-Senta aí e toma um trago, colega. Você tá precisando.
Não sei se o ser entendeu, ou percebeu o copo, mas continua a se arrastar em direção ao balcão. Enquanto, no segundo andar, uma barulheira dos infernos. Coisas batendo, quebrando, móveis sendo arrastados ou jogados, som aparentemente de uma janela sendo quebrada. Então, um grito estridente. Um zunido e percebo, por uma janela ali do salão, um corpo caindo de cabeça. Corro até a janela. O marombado se espatifou de cabeça no chão. O pescoço fez um horrendo u. Completamente quebrado. uma poça gigante de sangue se forma ao redor da cabeça. Que diabos ele estava tentando fazer? Sair pela janela pra chegar no telhado? Bem, já não importa mais. Que o diabo lhe conforte a alma.
Volto ao balcão. O zumbi está parado defronte ao copo que enchi pra ele, como se tentando lembrar o que fazer com aquilo. Aquela carcaça ambulante, mesmo já meio carcomida pelos vermes, sem dúvida tem uma aparência muito mais agradável que o marombado da cabeça rachada lá fora.
Ei. Chamo sua atenção. Ele se vira pra mim.
Ergo meu copo. Saúde. E entorno mais uma dose.
É provável que eu já esteja grogue e alucinando, mas tenho quase certeza que a criatura abraçou o copo com as duas mãos e lentamente, fazendo um esforço sobre-humano, ou sobre-zumbi, o ergueu em celebração.
Esta foi uma das páginas perdidas das
PUTRECRÔNICAS
RELATOS DA DECOMPOSIÇÃO HUMANA
Zumbis continuarão tentando mortoviver em um mundo aterrorizado pelos vivos. As páginas das Putrecrônicas estão perdidas por aí, espalhadas em zines, blogs, sites, livros e afins
O zumbi olha pra mim. Ou pelo menos está com os olhos em minha direção, um olhar opaco que não aparenta conseguir focalizar qualquer coisa. Uma baba cinzenta escorre de sua boca e pedaços de sangue coagulado caem dos buracos de bala. Pego um copo vazio no balcão, abasteço com uísque e jogo em frente a um banco ao meu lado.
-Senta aí e toma um trago, colega. Você tá precisando.
Não sei se o ser entendeu, ou percebeu o copo, mas continua a se arrastar em direção ao balcão. Enquanto, no segundo andar, uma barulheira dos infernos. Coisas batendo, quebrando, móveis sendo arrastados ou jogados, som aparentemente de uma janela sendo quebrada. Então, um grito estridente. Um zunido e percebo, por uma janela ali do salão, um corpo caindo de cabeça. Corro até a janela. O marombado se espatifou de cabeça no chão. O pescoço fez um horrendo u. Completamente quebrado. uma poça gigante de sangue se forma ao redor da cabeça. Que diabos ele estava tentando fazer? Sair pela janela pra chegar no telhado? Bem, já não importa mais. Que o diabo lhe conforte a alma.
Volto ao balcão. O zumbi está parado defronte ao copo que enchi pra ele, como se tentando lembrar o que fazer com aquilo. Aquela carcaça ambulante, mesmo já meio carcomida pelos vermes, sem dúvida tem uma aparência muito mais agradável que o marombado da cabeça rachada lá fora.
Ei. Chamo sua atenção. Ele se vira pra mim.
Ergo meu copo. Saúde. E entorno mais uma dose.
É provável que eu já esteja grogue e alucinando, mas tenho quase certeza que a criatura abraçou o copo com as duas mãos e lentamente, fazendo um esforço sobre-humano, ou sobre-zumbi, o ergueu em celebração.
Esta foi uma das páginas perdidas das
PUTRECRÔNICAS
RELATOS DA DECOMPOSIÇÃO HUMANA
Zumbis continuarão tentando mortoviver em um mundo aterrorizado pelos vivos. As páginas das Putrecrônicas estão perdidas por aí, espalhadas em zines, blogs, sites, livros e afins