— Tempo muito — ronrona o gato, resgatando-me ao presente. A princípio, fico sem entender.
Encaro o bichano e me dou conta de que bichos devem ter uma linguagem limitada, lógico. Provavelmente aprendem apenas aquilo que ouvem e seus cérebros primitivos não formulam nada complexo. Compreendo, então, que ele deva estar impaciente com a história. Talvez eu esteja divagando demais.
— Acho que posso me adiantar um bocado, visto que mostrar o passo a passo da derrocada de alguém não tem nada de extraordinário.
O gato vira a cabeça de lado. Parece não ter entendido bulhufas.
Mas é claro! Concluíra agora a pouco que o animal tem um intelecto reduzido e venho falar em derrocada extraordinária.
— Pular história. Muita coisa sem graça. — Tento igualar a linguagem.
— Entendido havia, idiota! — retruca. Lambe as patas naturalmente.
Meu queixo pende. Fico sem acreditar no que ouço. Filho de uma gata rameira!
Sento-me, escorado no parapeito oposto ao do felino, cruzo as pernas, deito o facão ao meu lado. Minha calça social, antes branca, agora era decorada por respingos vermelhos e sujeira de lama. Observo a lua.
Linda. Gigantesca. Amarela…
…tal qual naquela noite!
– Bem, gato, vamos adiantar então as coisas. Lembro-me de um ponto interessante para continuar.
O animal se acomoda melhor. Seu pelo negro brilha ao luar, os olhos tragam-me de volta há exatos dois anos.
Passei a frequentar o moquifo de EdGordo. No começo, pagava minha bebida e fazia apostas que cabiam no bolso. Ia ao bar apenas uma vez aos fins de semana. Minha mulher não gostava muito do cheiro de álcool e cigarros que voltavam impregnados em minhas roupas, mas evitava as brigas. Afinal, um homem tem o direito de se divertir um pouco, e quem comprava os brincos de joias, que valiam tanto quanto um fígado humano, para enfeitar aquelas orelhinhas, não é?
O problema veio com o passar de alguns meses. Jogava quase toda noite, e meus anfitriões passaram a dar cocaína e bebida em excesso. Meu patrimônio já era atingido e eu nem percebia. O pior, a sorte daqueles filhos da puta era inacreditável!
— Tempo muito — ronrona o gato, resgatando-me ao presente. A princípio, fico sem entender.
Encaro o bichano e me dou conta de que bichos devem ter uma linguagem limitada, lógico. Provavelmente aprendem apenas aquilo que ouvem e seus cérebros primitivos não formulam nada complexo. Compreendo, então, que ele deva estar impaciente com a história. Talvez eu esteja divagando demais.
— Acho que posso me adiantar um bocado, visto que mostrar o passo a passo da derrocada de alguém não tem nada de extraordinário.
O gato vira a cabeça de lado. Parece não ter entendido bulhufas.
Mas é claro! Concluíra agora a pouco que o animal tem um intelecto reduzido e venho falar em derrocada extraordinária.
— Pular história. Muita coisa sem graça. — Tento igualar a linguagem.
— Entendido havia, idiota! — retruca. Lambe as patas naturalmente.
Meu queixo pende. Fico sem acreditar no que ouço. Filho de uma gata rameira!
Sento-me, escorado no parapeito oposto ao do felino, cruzo as pernas, deito o facão ao meu lado. Minha calça social, antes branca, agora era decorada por respingos vermelhos e sujeira de lama. Observo a lua.
Linda. Gigantesca. Amarela…
…tal qual naquela noite!
– Bem, gato, vamos adiantar então as coisas. Lembro-me de um ponto interessante para continuar.
O animal se acomoda melhor. Seu pelo negro brilha ao luar, os olhos tragam-me de volta há exatos dois anos.
Passei a frequentar o moquifo de EdGordo. No começo, pagava minha bebida e fazia apostas que cabiam no bolso. Ia ao bar apenas uma vez aos fins de semana. Minha mulher não gostava muito do cheiro de álcool e cigarros que voltavam impregnados em minhas roupas, mas evitava as brigas. Afinal, um homem tem o direito de se divertir um pouco, e quem comprava os brincos de joias, que valiam tanto quanto um fígado humano, para enfeitar aquelas orelhinhas, não é?
O problema veio com o passar de alguns meses. Jogava quase toda noite, e meus anfitriões passaram a dar cocaína e bebida em excesso. Meu patrimônio já era atingido e eu nem percebia. O pior, a sorte daqueles filhos da puta era inacreditável!