Inspiro fortemente — e forçadamente.
Não tenho mais a necessidade humana de inflar os pulmões, porque deixei de respirar a um tempo. Mas é bom para evocar drama de vez em quando.
— Tempo muito! — ronrona novamente o gato.
— Ora, Gato! — exclamo, batizando-o pelo nome mais óbvio possível. — Estou indo o mais rápido que posso. Afinal, alguns detalhes precisam ser ditos. E já sumarizei bastante minha história!
Achava que gatos eram seres de paciência infinita.
Pela posição da lua, deve ser quase meia-noite. Olho novamente para a lagoa, o sangue diluíra bastante.
Já não ouço muitos carros transitando na avenida que cruza a zona nobre da cidade, há quase doze quilômetros, na borda oposta. No bosque, a leste, os morcegos começam a se aquietar e, vez ou outra, uma vareta estala. Decido que se trata de algum predador noturno, um gambá talvez. Sim. Capto seu cheiro no meio de tantos outros.
Por falar nisso, Gato não cheira mal.
— Então… prossigamos com a história, não? Garanto que agora as coisas caminharão com mais entusiasmo.
Ele boceja, encosta o queixo sobre as patas cruzadas. Encara-me.
O bar estava abarrotado de infelizes fedorentos, de modo que me abençoei pelo fato de a mesa do poker ficar em um lugar reservado.
Naquela noite havia quatro jogadores, contando comigo. Um cara magrelo, feio, com paletó abarrotado. Usava óculos arredondados e tinha olhos estrábicos… em alto grau. O rosto era arredondado e pequeno, o nariz, achatado. Características que lhe renderam a alcunha de Cara-de-peixe. Meu antigo cliente também se fazia presente. Já o terceiro era um sujeito que pouco comparecia. Um cara introspectivo e de raras palavras. Vestia-se muito bem, tinha rosto anguloso e olhos negros cruéis.
Todos prontos para iniciar mais uma sessão de jogatina falimentar, quando a porta se abriu. Ed trazia um novo convidado. Parecia assustado ao anunciar o novato. Muito!
— B-boa noite, pe-e-essoal! — disse Ed. Engoliu firme, respirou e prosseguiu, tentando manter o autocontrole. – Ele sabe a palavra de acesso e…
Inspiro fortemente — e forçadamente.
Não tenho mais a necessidade humana de inflar os pulmões, porque deixei de respirar a um tempo. Mas é bom para evocar drama de vez em quando.
— Tempo muito! — ronrona novamente o gato.
— Ora, Gato! — exclamo, batizando-o pelo nome mais óbvio possível. — Estou indo o mais rápido que posso. Afinal, alguns detalhes precisam ser ditos. E já sumarizei bastante minha história!
Achava que gatos eram seres de paciência infinita.
Pela posição da lua, deve ser quase meia-noite. Olho novamente para a lagoa, o sangue diluíra bastante.
Já não ouço muitos carros transitando na avenida que cruza a zona nobre da cidade, há quase doze quilômetros, na borda oposta. No bosque, a leste, os morcegos começam a se aquietar e, vez ou outra, uma vareta estala. Decido que se trata de algum predador noturno, um gambá talvez. Sim. Capto seu cheiro no meio de tantos outros.
Por falar nisso, Gato não cheira mal.
— Então… prossigamos com a história, não? Garanto que agora as coisas caminharão com mais entusiasmo.
Ele boceja, encosta o queixo sobre as patas cruzadas. Encara-me.
O bar estava abarrotado de infelizes fedorentos, de modo que me abençoei pelo fato de a mesa do poker ficar em um lugar reservado.
Naquela noite havia quatro jogadores, contando comigo. Um cara magrelo, feio, com paletó abarrotado. Usava óculos arredondados e tinha olhos estrábicos… em alto grau. O rosto era arredondado e pequeno, o nariz, achatado. Características que lhe renderam a alcunha de Cara-de-peixe. Meu antigo cliente também se fazia presente. Já o terceiro era um sujeito que pouco comparecia. Um cara introspectivo e de raras palavras. Vestia-se muito bem, tinha rosto anguloso e olhos negros cruéis.
Todos prontos para iniciar mais uma sessão de jogatina falimentar, quando a porta se abriu. Ed trazia um novo convidado. Parecia assustado ao anunciar o novato. Muito!
— B-boa noite, pe-e-essoal! — disse Ed. Engoliu firme, respirou e prosseguiu, tentando manter o autocontrole. – Ele sabe a palavra de acesso e…