– Mas eu insisto na pergunta: pode alguém negar 100% essa existência e não questionar essa possibilidade quando está sozinho?
– Não acho relevante. Nem necessário é. Penso que duvidar e devotar são limitações parecidas. Acreditar que tudo é possível incluí a possibilidade de não ser. A imaginação não pode ser açoitada. Penso em tudo o que pinta por aqui. Acho que, no meu caso, se existir “os três de Dante” e qualquer outra “passagem alternativa”, vou de boas em todas ou não vou em nenhuma, se não existir nenhuma. Em todo caso, imagino que estarei no lucro. É como não alimentar expectativas porque está bom aqui.
– O que acontece é que a vida pode parecer inconsequente para quem não se apega em algo. Não parece à deriva?
– E quem se agarra tão forte em algo e se desprende de todas as outras possibilidades? Não parece que se afogou por não ter aceitado o bote?
– Acho que vou dormir.
– E se não acordar mais?
– E por que não acordaria?
– Nunca se sabe.
– Devo me sentir ameaçado?
– Deve se sentir como quiser.
– Acha que temo a possibilidade do escuro? Pois saiba que não. Também não quero passar a impressão de que estou desistindo dessa conversa, bom, estou, mas é porque você é fraco, não vale a pena. Boa noite.
– Boa noite.
– Ah, não desliga a luz da cozinha quando for deitar.
– Tá certo.
– Ah, fecha a porta do seu quarto, você fala alto enquanto dorme.
– Tudo bem.
– Trancou a porta da sala?
– Ainda não. Mas vou sair um pouco, não pretendo voltar antes da luz.
– Certo. Vê se não morre por aí.
– Vê se não vive demais. Até os paraísos acabam em cinzas.
– Já saiu? Vai, vai… não esquece da porta.
– Não esquece de a próxima vez não terminar uma conversa. Fique. Quem termina fica brabo e acusa o outro de incompetência.
– Já saiu? Não?
– Acho que vou ficar. Na verdade, vou falar sozinho na cozinha.
– Então eu vou aí continuar essa conversa.
– Não venha, já estou saindo. Eu acredito que você se conformou, mas não sabe admitir que pode estar errado.
– Então vai se foder.
– Eu vou, mas você não vai.
– Mas eu insisto na pergunta: pode alguém negar 100% essa existência e não questionar essa possibilidade quando está sozinho?
– Não acho relevante. Nem necessário é. Penso que duvidar e devotar são limitações parecidas. Acreditar que tudo é possível incluí a possibilidade de não ser. A imaginação não pode ser açoitada. Penso em tudo o que pinta por aqui. Acho que, no meu caso, se existir “os três de Dante” e qualquer outra “passagem alternativa”, vou de boas em todas ou não vou em nenhuma, se não existir nenhuma. Em todo caso, imagino que estarei no lucro. É como não alimentar expectativas porque está bom aqui.
– O que acontece é que a vida pode parecer inconsequente para quem não se apega em algo. Não parece à deriva?
– E quem se agarra tão forte em algo e se desprende de todas as outras possibilidades? Não parece que se afogou por não ter aceitado o bote?
– Acho que vou dormir.
– E se não acordar mais?
– E por que não acordaria?
– Nunca se sabe.
– Devo me sentir ameaçado?
– Deve se sentir como quiser.
– Acha que temo a possibilidade do escuro? Pois saiba que não. Também não quero passar a impressão de que estou desistindo dessa conversa, bom, estou, mas é porque você é fraco, não vale a pena. Boa noite.
– Boa noite.
– Ah, não desliga a luz da cozinha quando for deitar.
– Tá certo.
– Ah, fecha a porta do seu quarto, você fala alto enquanto dorme.
– Tudo bem.
– Trancou a porta da sala?
– Ainda não. Mas vou sair um pouco, não pretendo voltar antes da luz.
– Certo. Vê se não morre por aí.
– Vê se não vive demais. Até os paraísos acabam em cinzas.
– Já saiu? Vai, vai… não esquece da porta.
– Não esquece de a próxima vez não terminar uma conversa. Fique. Quem termina fica brabo e acusa o outro de incompetência.
– Já saiu? Não?
– Acho que vou ficar. Na verdade, vou falar sozinho na cozinha.
– Então eu vou aí continuar essa conversa.
– Não venha, já estou saindo. Eu acredito que você se conformou, mas não sabe admitir que pode estar errado.
– Então vai se foder.
– Eu vou, mas você não vai.